Oito meses após o início do governo, vamos diversos mandos e desmandos do Poder Executivo nas mais diversas áreas.
O “””contigenciamento””” feito no orçamento afetou consideravelmente várias pastas.
O esporte não foi exceção.
Depois de perder o status de ministério no início do ano, o esporte perde ainda mais força com o comando de Jair Bolsonaro (PSL).
A proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 foi enviada ao Congresso Nacional pelo Poder Executivo.
Nessa proposta, o governo destina R$ 220 milhões ao esporte, metade dos R$ 431 milhões destinados por Michel Temer (MDB) na LOA 2019, antes de deixar o cargo.
Se formos comparar os investimentos entre os ciclos olímpicos, o de Tóquio foi terrível.
As contas não fecham
Tirando despesas relacionadas ao legado olímpico (que, querendo ou não, são dívidas “obrigatórias” frente ao investimento feito), a redução do investimento é de 74% em comparação ao ciclo dos Jogos do Rio.
OK, o Brasil era sede, então o investimento tenderia a crescer, mas um corte tão profundo no investimento não passaria batido.
Em comparação, na LOA de 2017 – um ano após as olimpíadas do Rio -, o valor era de R$ 722 milhões.
Assim, a União deixa de ser o maior apoiador do esporte nacional, já que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), prevê investimento R$ 195 milhões este ano e, como ano que vem é ano olímpico, tende a investir ainda mais.
Os cortes mais profundos foram no “Esporte de Alto Rendimento”, justamente visando os atletas que competem em eventos multi-desportivos, como o Pan e as Olimpíadas:
Preparação de atletas e capacitação de profissionais para o Esporte de Alto-Rendimento: de R$ 105 milhões em 2016 para R$ 3 milhões
Preparação de seleções para representação do Brasil: R$ 40 milhões em 2017 para R$ 1 milhão este ano
Ou seja, o esporte de alto rendimento brasileiro disporá de 4 milhões para o ano olímpico.
Como comparação, em 2016 o valor foi de R$ 241 milhões. No ano seguinte, o primeiro do atual ciclo, R$ 93 milhões.
O programa de implantação do Estação Cidadania – Esporte (antigo Centro de Iniciação ao Esporte), “carro-chefe” do Ministro da Cidadania, Osmar Terra, também sofrerá cortes.
Apenas R$ 10 milhões, 1/5 do valor de 2016, e bem menos que os R$ 44 milhões da última LOA.
O Bolsa-Atleta segue com R$ 70 milhões no orçamento pela terceira vez. O problema é que esse valor não paga nem metade do programa, que custa cerca de R$ 140 milhões ao ano.
O que a secretaria vai fazer?
A Secretaria Especial do Esporte agora apela para os deputados e senadores, que ainda votarão a LOA, e geralmente fazem alterações (a maioria envolvendo seus currais eleitorais).
De acordo com o secretário especial Décio Brasil:
“A gente pretende com esse convite, com esse chamamento, sensibilizar as bancadas da possibilidade de dirigir mais corretamente as emendas. É um dinheiro nobre, que pode influenciar vidas, mudar realidades sociais de crianças e adolescentes. Os parlamentares têm um poder grande de atuar nas políticas de esporte. E sabemos que cada dólar investido no esporte simboliza pelo menos três dólares de economia na saúde”
Para quem quer tanto se inspirar no estilo americano, o governo brasileiro tem outro modus operandi: sucatear uma área (principalmente se há apelo popular) para inibi-la, vendê-la ou destrui-la.
É muito fácil receber os atletas vencedores do Pan em Brasília ou arrotar caviar tentando surfar no sucesso alheio quando os recursos são escassos, e vários desses atletas tem no patrocínio a única forma de se manter (ou tentar) em alto nível.
Seguimos de olho !