De bate pronto: Palmeiras tem mundial? E o Fluminense?
Os dois clubes embarcaram para participar do novo formato do Mundial de Clubes, e levam na bagagem o “rumo ao bi”.
Mas… Isso procede? Ou é apenas delírio coletivo dos torcedores?
Esse post vai contar a história da Copa Rio, o “”””primeiro campeonato mundial de clubes”””.
A Copa de 1950 – um profundo baque
Antes de falarmos da Copa Rio em si, precisamos falar sobre o motivo dele existir: a Copa do Mundo de 1950.
O Brasil recebia o retorno do Mundial após a Segunda Guerra. E fez uma campanha brilhante, enchendo o recém inaugurado Maracanã para a decisão.
Porém, a derrota diante de mais de 200 mil pessoas para o Uruguai calou o Brasil.
O clima de tristeza futebolística tomou conta do país. Surgiu então a ideia de organizar um torneio internacional de clubes no ano seguinte.
A Europa, devastada pela guerra, ainda engatinhava na organização de competições de clubes em larga escala, mesmo Londres tendo organizado os Jogos Olímpicos em 1948.
A Copa dos Campeões da Europa, que hoje conhecemos como Liga dos Campeões, só nasceria em 1955.
E o Brasil novamente se dispôs a organizar esse torneio.
Na verdade, o Rio de Janeiro. O nome Copa Rio se deve ao patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro que, inclusive, doou o troféu.
A Copa Rio de 1951
A primeira edição da Copa Rio, realizada entre 30 de junho e 22 de julho de 1951, foi criada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), recebendo o apoio da FIFA.
E é aqui que mora o “problema”… O quão envolvida estava a entidade do futebol na Copa Rio 1951?

Jules Rimet, presidente da entidade, falou em entrevista na Espanha que o torneio era de total responsabilidade da CBD.
Porém, noutra entrevista, colocou panos quentes, afirmando que, como não era um torneio entre seleções, não precisava ter um aval oficial da entidade.
A ideia era “copiar” a fórmula da Copa do Mundo de 1950 para os clubes, trazendo o campeão nacional de cada uma das nações que estiveram no Mundial de Seleções.
No entanto, com os mesmos problemas do torneio FIFA do ano anterior, a logística prejudicou a organização, e o que eram 16 clubes, passou a ser apenas 8.
Participantes
Participaram da Copa Rio de 1951 oito clubes:
Brasil – Vasco e Palmeiras
Itália – Juventus
Iugoslávia – Estrela Vermelha
Uruguai – Nacional
Portugal – Sporting
Áustria – Austria Viena
França – Nice
Como não haviam campeões continentais na época, foram chamados os campeões nacionais dos países que aqui estiveram em 1950, de preferência.
Os grupos então foram divididos da seguinte forma:
Grupo do Rio: Vasco, Sporting, Austria Viena, Nacional.
Grupo de São Paulo: Palmeiras, Juventus, Estrela Vermelha, Nice.
Os dois melhores de cada grupo avançariam às semifinais.
No Grupo do Rio, o Vasco foi o campeão, e o Austria Viena classificou em segundo. O Palmeiras foi o segundo no Grupo de São Paulo, com a Juventus terminando em primeiro.
Nas semifinais, duelo BR vencido pelo Palmeiras em dois jogos. No outro confronto, a Juventus levou a melhor sobre o Viena.
A grande final
A decisão da Copa Rio de 1951 foi um clássico Brasil x Itália: Palmeiras contra a Juventus, em dois jogos no Maracanã.
O Verdão, comandado pelo lendário Liminha e com a garra de Jair Rosa Pinto, enfrentou a Vecchia Signora, que contava com o craque dinamarquês John Hansen.
O Palmeiras venceu a primeira partida por 1 a 0, gol de Rodrigues. Na segunda partida, o Palmeiras segurou o empate em 2 a 2, com gols de Rodrigues e Liminha, garantindo o título e a taça.
Um ano depois, o lamento da tristeza com a derrota na Copa virou celebração. Não somente dos palmeirenses, mas do povo carioca também.
Nos jornais, estampavam a manchete de “campeão mundial” para o Palmeiras.
A Copa Rio de 1952
Diante do sucesso da primeira edição, a CBD, novamente com o aval da FIFA, organizou a Copa Rio de 1952.
Porém, a participação da FIFA foi mais modesta frente ao torneio anterior.
A grande questão era que, originalmente, o torneio aconteceria apenas em 1953. Porém, o Fluminense, querendo aproveitar o ano de seu cinquentenário, convenceu a CBD a antecipar o torneio.
Logo, o clube assumiu a organização do torneio com a autorização e apoio da CBD.
A FIFA estava acompanhando o torneio por meio de seu secretário Ottorino Barassi, muito mais “de longe” do que fazia em 1951.
Participantes
A edição de 1952, que ocorreu entre 13 de julho e 2 de agosto, veio com um rol de participantes bem difefente do ano anterior:
Brasil – Fluminense e Corinthians
Uruguai – Peñarol
Alemanha Ocidental – Saarbrücken
Suiça – Grasshopper
Portugal – Sporting
Paraguai – Libertad
Áustria – Austria Viena
Apenas Sporting e Austria Viena voltaram. Isso já demonstra que o interesse do futebol europeu estava ficando mais escasso para esse torneio.
Grupo do Rio: Peñarol, Grasshopper, Fluminense e Sporting.
Grupo de São Paulo: Saarbrücken, Libertad, Corinthians e Austria Viena.
Fluminense e Peñarol avançaram nessa ordem no Grupo do Rio, e Corinthians e Austria Viena, da mesma forma, avançaram no Grupo de São Paulo.
Após uma grande confusão no primeiro jogo da semifinal entre Corinthians e Peñarol, os uruguaios, alegando insegurança e hostilidade ainda por conta da Copa de 1950, desistiram da competição.
No outro lado, o Fluminense desbancou o Austria Viena e avançou à decisão.
Mundial de Clubes ou Rio-São Paulo?
A final da Copa Rio de 1952 foi um duelo que poderia muito ser a final de um Rio-São Paulo: Fluminense e Corinthians.
Em duas partidas no Maracanã, o Fluminense venceu a primeira por 2 a 0, com gols de Orlando Pingo de Ouro e Marinho.
Na segunda partida, um empate em 2 a 2, com gols de Marinho e Didi para o Fluminense, e Jackson e Souzinha para o Corinthians, garantiu o título ao tricolor carioca.
O Fluzão sagrava-se campeão, e também estampava nos jornais a alcunha de “campeão mundial”.
Mas e aí? É ou não é Mundial?
As Copas Rio de 1951 e 1952 foram, de fato, mundiais de clubes?
Temos a resposta curta e a longa.
A Curta: 1952 não é mesmo. 1951 também não é mas, não seria absurdo se virasse.
A longa: por mais que a FIFA estivesse envolvida nos dois torneios – muito mais em 1951 – a própria entidade não reconhece oficialmente os torneios como mundiais.
Porém, existem fatores a favor do “reconhecimento”:
- Pioneirismo: As Copas Rio foram as primeiras competições interclubes de grande porte, especialmente após a Segunda Guerra.
Não é exagero dizer que os dois torneios foram embriões da futura Copa Intercontinental. - Participação da FIFA (ainda que limitada): O próprio Jules Rimet, então presidente da FIFA, esteve em pessoa na final de 1951 e entregou a taça ao Palmeiras.
A FIFA na época considerava o torneio como uma “tentativa de campeonato mundial”. - Reconhecimento Popular da Época: Tanto a imprensa quanto a opinião pública no Brasil e em alguns países participantes, tratavam na época as Copas de 1950 e 1951 como um “mundial” ou, no mínimo, como um campeonato de grande importância internacional.
Obviamente, existem pontos contrários aos títulos virarem oficiais:
- Falta de reconhecimento oficial da FIFA: Mesmo que tendo se envolvido nos dois torneios, a FIFA realmente não tinha interesse em um torneio entre clubes naquele momento.
A entidade só passou a organizar seu próprio Mundial de Clubes em 2000, e apenas em 2005 reconheceu a Copa Intercontinental (disputada entre 1960 e 2004) como título mundial. Essa morosidade gerou muita discussão. - Ausência de representantes de todos os continentes: Mesmo que o futebol fora da Europa e América do Sul ainda fosse embrionario, a Copa do Mundo de Seleções já tinha a presença, mesmo que acanhada, de países asiáticos e africanos.
Logo, um torneio a nível mundial sem esses países seria algo impensado. No entanto, isso também recai sobre o fato de se considerar os vencedores da Copa Intercontinental como mundiais.
Anos depois, a polêmica revivida
Mesmo que Palmeiras e Fluminense sempre tenham celebrado o título da Copa Rio como Mundial, isso não afetava a FIFA diretamente.
As diretorias tentavam o reconhecimento com a entidade máxima, mas não parecia ser algo concreto.
Palmeiras
Em 2007, um fax da FIFA foi apresentado pela diretoria do Palmeiras como uma confirmação de que a Copa Rio 1951 era o primeiro campeonato mundial de clubes.
Isso causou um alvoroço entre os palmeirenses, sendo a tal confirmação tão esperada.

No fim de 2007, a FIFA vendo o mundaréu de pedidos de reconhecimento que surgiram após esse documento, afirmara que a Copa Rio de 1951 era torneio intercontinental e não-FIFA, “à nível mundial”, assim como todos os títulos da Copa Intercontinental.
Em 2014, uma série de faxes também foram enviados ao presidente da CBF e ao ministro de esportes da ocasião, Aldo Rebelo, atestando a primazia do Palmeiras com relação a títulos mundiais.
No entanto, em 2017, a FIFA divulgou um comunicado bem ambíguo.
Nesse documento, a entidade afirmava que, embora a Copa Rio de 1951 tivesse sido o primeiro torneio interclubes de abrangência mundial, apenas os vencedores do Mundial de Clubes da FIFA (a partir de 2000) seriam considerados “campeões mundiais” pela entidade.
Logo, o Palmeiras não seria listado no site oficial.
Fluminense
Já no caso do Flu, a coisa é mais complicada.
Como o envolvimento da FIFA não foi tão grande quanto em 1951, e o torneio ficou menos interessante para os europeus, um reconhecimento de 1952 é bem improvável.
O Fluminense, assim como o Palmeiras, tem feito um trabalho contínuo para que seu título seja reconhecido pela FIFA, mas não houve muitos avanços.

No fim, para a FIFA, o que vale é a sua chancela oficial, a organização do torneio.
Para os palmeirenses e tricolores, o que vale é a história, o contexto e o impacto da conquista da época são o que realmente importam.
E para os torcedores adversários, vale a zoeira, para que o reconhecimento nunca venha!
E aí, pra você, Palmeiras e Fluminense podem buscar o bi no Super Mundial? O título inédito? Ou não tem a menor chance? Comenta aí!