O esporte brasileiro foi sacudido nessa semana pela decisão da CBF em reconhecer a Copa dos Campeões de 1937 como título nacional.
Com isso, o Atlético-MG é “oficialmente” tricampeão brasileiro de futebol.
Esse post se dedica a explicar que campeonato é esse, o motivo da CBF fazer isso e as consequências dessa decisão!
Que campeonato é esse?
O Torneio dos Campeões foi o primeiro grande campeonato inter-estados do futebol brasileiro.
Surgiu num momento em que o futebol ainda discutia a “polêmica” entre amadorismo x profissionalismo.
A primeira edição foi em 1920, organizada pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que viria a se tornar CBF na década de 1970). Envolveu os campeões carioca, paulista e gaúcho de 1919.
O grande campeão foi o Paulistano, que venceu o Fluminense e o Brasil de Pelotas.
Paulistano cujo departamento de futebol foi extinto na década seguinte e, em uma fusão com Associação Atlética das Palmeiras, criou o São Paulo Futebol Clube.
O clube ainda existe, e tem grande participação no esporte olímpico, em especial natação e basquete.
O novo primeiro campeão brasileiro
No entanto, a versão do torneio que virou o “novo” primeiro campeonato brasileiro ocorreu 17 anos depois, em 1937.
Dessa vez, o Torneio dos Campeões foi organizado pela FBF (Federação Brasileira de Futebol).
Essa organização foi fundada em 1933 pela Associação Paulista de Esportes Atléticos e pela Liga Carioca de Football, em meio a já antiga briga de “amadorismo x profissionalismo”.
A CBD ainda mantinha a ideia do amadorismo, enquanto a nova federação focava no profissionalismo.
Para mostrar o poderio do novo movimento profissional no Brasil, a FBF decidiu organizar o movimento com campeões e equipes convidadas, excluindo equipes amadoras, como o Bahia e o Internacional.
Dessa forma, os convidados foram:
– Fluminense, campeão carioca de 1936
– Portuguesa, campeã paulista de 1936
– Atlético, campeão mineiro de 1936
– Rio Branco, campeão capixaba de 1936
– Aliança, campeão fluminense de 1936
– Liga de Sports da Marinha, equipe fluminense convidada.
Lembrando que, em 1937, a capital do país ainda era o Rio de Janeiro. Portanto, tínhamos na realidade uma equipe do ESTADO do Rio de Janeiro e duas do Distrito Federal no momento.
Dos clubes citados, Aliança e Liga da Marinha não existem mais. Inclusive eles fizeram o primeiro jogo eliminatório, com vitória dos marinheiros.
A campanha da galera da Marinha terminou contra o Rio Branco, que entrou no grupo final daquele torneio junto com Flu, Lusa e Galo.
Esse grupo final foi em disputa de todos contra todos, turno e returno.
O Galo acabou ficando em primeiro nesse grupo final, desbancando o favorito Fluminense (na época, a vitória valia dois pontos).
O título foi muito comemorado na época pelos atleticanos. Tanto que a conquista é relembrada no próprio hino do clube, composto por Vicente Mota em 1969:
“Nós somos Campeões dos Campeões, somos o orgulho do esporte nacional.”
Não tivemos, no entanto, novos torneios desse tipo.
A FBF foi extinta em 1941 por decreto, que proibia federações esportivas interestaduais além da principal (no caso, e na época, da CBD).
Dessa forma, todos os estados teriam que manter uma federação própria, como nos dias atuais.
Outro campeonato nesse nível seria organizado pela CBD em 1959, mais de 20 anos depois.
…Mas não foi a última!
Quando já tínhamos dois torneios a nível nacional que no futuro seriam considerados títulos nacionais, a FMF (Federação Mineira de Futebol), decidiu fazer uma nova edição do torneio.
A competição contando com os campeões dos principais torneios de 1966: Taça Brasil (Cruzeiro), Campeonato Paulista (Palmeiras), Campeonato Carioca (Bangu) e Campeonato Mineiro (Cruzeiro).
A FMF decidiu então convidar o Atlético-MG (vice-campeão mineiro de 1966) para completar a disputa.
Dessa vez, o Bangu foi o grande vencedor da competição, numa partida contra o Atlético repleta de polêmica.
Mas de onde saiu isso?
Quando a CBF anunciou a unificação dos títulos entre 1959 e 1970 nos torneios Taça Brasil e Roberto Gomes Pedrosa / Taça de Prata, a diretoria do Atlético esperava que esse título de 1937 também entrasse no bolo, mas não rolou.
Recentemente, a diretoria do Galo voltou a ativa para o reconhecimento, entre outras coisas, para “pegar carona” na inauguração da nova arena do time.
O caráter único do torneio aparentemente inviabilizava essa pedida, mas tudo mudou quando a CBF aceitou e homologou o Galo como o primeiro campeão nacional.
O Galo divulgou efusivamente nas redes sociais quando a notícia saiu, causando festa para os atleticanos e críticas das outras torcidas.
O que acontece agora?
Muitos se perguntam se o Paulistano ou o Bangu poderiam solicitar a CBF o mesmo reconhecimento dado ao Atlético.
O problema é que mesmo que o torneio tenha o mesmo nome, foi organizado por entidades diferentes (CBD, FBF e FMF).
A CBD hoje é a CBF, e tecnicamente poderia ser reconhecido, mas é bem improvável haja vista o amadorismo do futebol na época, e a brevidade do torneio.
Já para 1967, como foi a Federação Mineira que organizou, é muito mais um torneio amistoso do que algo oficial, principalmente tendo dois torneios oficiais do Brasileirão na época.
PORÉM se pensava algo assim do campeonato de 1937, então… Vai saber…
E aí, o que você acha? Bangu e Paulistano também merecem o título brasileiro? Comenta aí!