Como Gianni Infantino vem tentando mudar o futebol

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, chegou para revolucionar o esporte bretão.

Porém, as mudanças em torneios tradicionais, a criação de outros torneios (uns pedidos há tempos, outros nem tanto) evidenciam que nem tudo o que o Carecation traz é meramente para o bem do esporte.

Esse post lista algumas das iniciativas de Infantino que ajudam a promover o futebol – e a proteger seu futuro como presidente.

O Carecation

Infantino chegou ao cargo máximo do futebol em 26 de fevereiro de 2016, durante o Congresso Extraordinário da FIFA.

E foi reeleito mais duas vezes, em 2019 e em 2023, sendo as duas últimas por aclamação (ou seja, sem outros candidatos).

Após sua eleição, alguns itens foram destacados pelo próprio:

  • Expansão e Globalização do Futebol: levar o futebol a novos patamares de alcance global. Não apenas a popularização do esporte em si, mas dar mais competitividade a seleções e federações, dando mais chance de disputarem torneios FIFA.
  • Aumento de Receitas e Sustentabilidade Financeira: futebol é um negócio, todo mundo sabe. E é uma indústria bilionária. Aumentar as receitas é um item crucial para a sustentabilidade financeira da FIFA e para a continuidade de investimento em programas de desenvolvimento do futebol no mundo todo.
  • Melhoria da Qualidade do Espetáculo e Engajamento dos Fãs: a melhora do espetáculo como entretenimento. Em um mundo cada vez mais globalizado e com a velocidade de informação (e de atenção) aumentando, o futebol precisa se adaptar. Novas fórmulas de torneio, mais jogos decisivos e a participação de mais equipes podem dar trazer mais o interesse do público.
  • Fortalecimento do Futebol Feminino: além do fator desportivo, o valor social e comercial do futebol feminino vem sendo cada vez mais evidenciado nas ações da FIFA, mesmo que ainda não na velocidade que se espera.

O que o Carecation propôs

Não dá pra dizer que o Infantino é um presidente omisso (pelo menos não na maioria das vezes).

Volta e meia ele vem ajustando, criando ou extinguindo algum torneio, campeonato ou iniciativa da FIFA. A questão é se isso é meramente para melhoria do esporte ou para benefício político.

Como assim? Senão, vejamos:

Copa do Mundo para mais países

Vamos começar pelo que talvez seja a mudança mais impactante e discutida: a Copa do Mundo FIFA masculina.

Desde 1998 com o formato de 32 seleções na fase final, passará a ter 48 equipes a partir da edição de 2026, que será sediada na América do Norte.

De fato, essa mudança foi a que trouxe mais polêmica e discordância.

Inicialmente, a ideia era dividir essas 48 seleções em 16 grupos de três equipes.

Em 2023, após a péssima recepção – especialmente sobre como se daria a “última rodada” desses grupos, essa ideia foi reavaliada.

Agora, o formato é de 12 grupos de quatro equipes. Os dois primeiros colocados de cada grupo e os oito melhores terceiros avançarão para uma fase de 32 avos de final.

Esse era o esboço da Copa de 2026 com 16 grupos de 3 equipes. Logo essa ideia foi abandonada.

Isso vai significar mais jogos no total (104, em vez dos 64 do formato atual).

Para que uma equipe seja campeã em 2026, terá que jogar 8 vezes – contra as 7 no formato de 32 seleçoes.

O que Infantino, defensor da ideia desde o começo do seu planejamento, usa para justificar a mudança?

  • Inclusão Geográfica: 16 vagas a mais permite a mais países a chance de participar do maior evento esportivo do planeta, especialmente países da África, Ásia e Concacaf, com mais vagas garantidas, e a OFC, que tem uma vaga fixa finalmente. Isso pode fomentar investimentos nesses países, alavancando ainda mais o esporte.
  • Aumento de Receitas: Mais jogos, mais venda de direitos de transmissão, mais patrocinadores, mais turistas…

Porém, nem tudo são flores. Há muita crítica sobre a necessidade real dessa mudança.

O aumento da carga de jogos para os jogadores e a possibilidade de um nível técnico “mais diluído” na fase de grupos são fatores contra.

Além do apelo político de agradar mais eleitores para uma provável reeleição.

Copa do Mundo de Clubes – Copa das Confederações 2.0

Após o fim do torneio teste para a Copa que reunia os campeões continentais, a FIFA ficou com um vazio no calendário.

Com isso, surgiu a chance de criar a Copa do Mundo de Clubes num formato mais parecido com o de seleções.

Abolindo o formato de 7 clubes em um mata-mata, adotou-se o formato de 32 clubes, o mesmo da Copa do Mundo pré-2026.

Esse sim é um torneio que o Infantino quer que dê certo.

O Super Mundial é algo que o Carecation quer muito que vingue

O fato da primeira edição ser nos EUA somente – em vez de envolver México e Canadá, co-hosts da Copa 2026 – é um bom exemplo disso.

E o Carecation usa como argumentos favoráveis:

  • Um Torneio de Elite Genuíno: A FIFA sempre quis desbancar a UEFA Champions League como a maior liga de clubes do mundo. E quer desembolsar uma grana pesada para convencer os clubes da UEFA disso.
  • Atração de Patrocínios e Direitos de TV: A presença de estrelas mundiais, em muitos casos jogando num mesmo clube, é um prato cheio para atrair grandes investimentos e ampliar os direitos de transmissão.
  • Aumento da Competitividade Global: Colocar não apenas o campeão continental no torneio pode dar a mais clubes de diferentes continentes a chance de enfrentar os gigantes europeus, ajudando a dar vitrine global a esses clubes.

Óbvio que nada disso foi o suficiente. O torneio nem de longe atrai as atenções desejadas pela FIFA.

Antes da definição dos participantes, estava difícil até vender os direitos de transmissão.

Jogos estão com ingressos muito mais baratos para atrair torcedores.

Além, claro, de mais um torneio no calendário dos clubes, já desgastados com a temporada normal.

Os principais atores do espetáculo – os jogadores – reclamaram pelas suas associações sobre a falta de consulta para a realização do torneio, bem como o elevado risco de lesões.

Principalmente porque ainda teremos o “antigo” Mundial de Clubes anual, rebatizado como Copa Intercontinental da FIFA.

Mudanças no Futebol Feminino

Aqui temos que dar o braço a torcer. Já havia passado da hora do Carecation ter o mesmo olhar para o futebol feminino.

Das suas iniciativas que valem destaque, podemos listar:

  • Expansão da Copa do Mundo Feminina: expansão de 24 para 32 seleções, desde 2023, na copa da Austrália e Nova Zelândia
  • Criação da Copa de Clubes Feminina: nesse momento ainda no formato “antigo” do masculino, com apenas os campeões continentais, mas a ideia é também expandir para um modelo mais “Copa”, com fase de grupos e mata-mata. Está prevista para acontecer a sua primeira edição em 2026.

Além das iniciativas acima, o fortalecimento de competições de base em ambos os “naipes” – masculino e feminino, bem como uma tentativa de união com o COI e a valorização do Torneio Olímpico de Futebol.

Politicalha

Porém, ainda há um problema sério, que é evidenciado por todas essas iniciativas: proteção política da entidade.

Crescem os problemas com direito do trabalho e direitos humanos nas sedes dos torneios FIFA, como foi no caso do Catar, em 2022.

Posicionamentos políticos (ou a falta deles) nos casos de Rússia/Ucrânia e Israel/Palestina são duramente criticados por entidades e países.

E, obvio, o ponto central da coisa: permitir que mais federações joguem os torneios principais criam um gigante colégio eleitoral para Infantino e futuras reeleições.

E você, o que está achando da atuação do Carecation no comando da FIFA? Comenta aí!