O furacão que passa na CBF: vamos TENTAR entender o que acontece

Que a CBF é uma bagunça generalizada, isso não é nenhuma novidade.

Porém, nos últimos dias, meio que fomos surpreendidos por uma rápida mudança de ares na presidência da entidade, que poderia até mudar alguma coisa no nosso futebol, mas…

Esse post visa registrar a ebulição na Confederação Brasileira de Futebol, e o que (e se) pode mudar algo no nosso esporte bretão.

O então presidente da CBF Ednaldo Rodrigues foi destituído do seu cargo de presidente por conta de… uma assinatura falsa!

Porém, para entendermos como tudo chegou nesse ponto, precismos voltar ainda mais no tempo.

2017

Marco Polo Del Nero, em 2017, decidiu alterar as regras da eleição da entidade, em uma assembléia apenas com representantas das federações estaduais, excluindo os clubes.

A chiadeira foi grande, ao ponto do Ministério Público do Rio (MPRJ) entrar com ação anulando essa assembleia e afastando toda a cúpula da CBF.

Porém a ordem judicial não foi cumprida.

Primeiro porque Del Nero foi derrubado pela FIFA em dezembro daquele ano, reflexo daquela investigação da INTERPOL na entidade.

Segundo porque a CBF colocou o Coronel Nunes de interino até a eleição de Rogério Caboclo, em abril de 2018, ainda usando o acordado na assembleia questionada pelo MPRJ.

2021

Três anos se passam desde a eleição de Caboclo. Ele nem era mais presidente da CBF, pois havia sido afastado pelo Comitê de Ética da entidade por denúncias de abuso sexual e moral.

Porém, a assembleia de 2017 ainda rendia.

Em julho dquele ano, o MPRJ conseguiu anular a tal assembleia e a eleição de Caboclo.

Em seguida, foram nomeados interventores o então mandatário do Flamengo Rodolfo Landim e o presidente da federação paulista Reinaldo Carneiro Bastos.

Com novamente o Coronel Nunes no comando, a CBF interveio na decisão e a reverteu.

Logo, decidiram colocar outro vice interino no poder: Ednaldo Rodrigues.

2022

Com o MPRJ ainda na cola para anular a eleição de 2018, a CBF – sob o comando de Ednaldo – entrou em acordo com o Ministério Público.

Assim, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que se comprometia a fazer uma nova assembleia para definir as regras eleitorais, dessa vez sem excluir os clubes do processo.

Com isso, a eleição de 2018 seria anulada.

E isso implodiu a CBF, já que quem foi eleito naquela eleição perdia automaticamente o cargo, isso incluindo os até então vices presidentes.

Ednaldo então se candidata, é candidato único e vence a eleição um mês após a assinatura do TAC.

Paz enfim?

Agora a turma que questionava na justiça o fato do o MPRJ anular a eleição de 2018, agora questionava o TAC, e pedia a anulação da eleição de 2022

2023

Após o pleito que elegeu Ednaldo, seus “inimigos” seguiam tentando derrubá-lo judicialmente.

Na época da eleição, uma proibição determinada pela Justiça de Alagoas tentou impedir o pleito.

Alagoas é a terra de Gustavo Feijó, então o maior opositor de Ednaldo.

Porém em 2023, outro ferrenho opositor surgia: Fernando Sarney.

Em março de 2023, Sarney é deposto do cargo no Conselho da Fifa, cadeira que o maranhense ocupava desde 2015, ficando o próprio Ednaldo no lugar.

No finalzinho do ano, a primeira queda: a Justiça do Rio afastou Ednaldo do cargo de presidente da CBF, nomeando o presidente do STJD na época, José Perdiz, como interventor.

A argumentação era de que o MP não poderia ter interferido nas regras eleitorais da CBF.

2024

Ednaldo Rodrigues “amanheceu” em 2024 deposto, mas não por muito tempo.

O ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes reconduziu Ednaldo Rodrigues ao cargo em janeiro.

E quanto a decisão de que o MP pode ou não intervir em entidades esportivas está no pleno do STF para ser julgado.

A decisão deve acontecer inclusive nos próximos dias, mas sem “atrapalhar” o já atrapalhado movimento na CBF…

2025

Um ano e pouco depois, com muita polêmica e críticas pela desorganização do futebol brasileiro e a questionável campanha da Seleção nas eliminatórias, uma nova eleição da CBF é organizada.

Vimos até Ronaldo Fenômeno se pré-candidatar, mas desistindo logo em seguida por não ter sequer sido recebido pelas federações para apresentar seu “plano de governo”.

Sendo assim, Ednaldo é reeleito por UNANIMIDADE por federações e clubes – exatamente quem mais reclama da arbitragem, condição de gramados, calendário…

Tudo parecia bem no reino da CBF.

Porém, em janeiro, um fato desencadeou a queda de Ednaldo nesse mês de maio.

Todos que já contestaram o MPRJ (além da própria CBF, dos vice-presidentes Nunes, Sarney e Feijó, do ex-presidente Caboclo, entre outros) assinaram documento em que reconheciam a legalidade da assembleia e da eleição de 2022, se compromentendo a não mais questioná-las.

Isso parecia ter dado a tranquilidade que Ednaldo precisava, tanto é que a eleição para presidente ocorreu sem muito problema.

A bomba

Porém, surgiram documentos no fim do mês de abril sobre a saúde do Coronel Nunes.

Diagnosticado com tumor no cérebro em 2018, existe um laudo assinado pelo médico da CBF Jorge Pagura, que atesta “déficit cognitivo” do vice.

Além disso, surgiu uma procuração do cartola de 86 anos, que confere poderes a um terceiro para gerenciar suas finanças no banco.

Daí, uma perícia contratada pelo vereador Marcos Dias (Podemos/RJ) afirmou não ser possível confirmar a veracidade da assinatura de Nunes no acordo de janeiro.

Era tudo que Sarney precisava. Ele entra com pedido no STF para anular o documento assinado em janeiro e afastar Ednaldo.

Mais uma vez Gilmar Mendes negou. Porém repassou o caso para o TJ-RJ, que enfim anulou o acordo E afastou Ednaldo do cargo.

O interventor, Sarney, convoca novas eleições imediatamente.

O tabuleiro se mexe

Com a queda de Ednaldo, o caminho estava aberto para uma nova eleição – dessa vez, sem intervenção judicial no pleito.

Foi designado então o calendário: 18 a 20 de maio, o registro das chapas.

25 de maio a eleição e a posse do novo presidente já ocorreria no dia seguinte, para um mandato até 2029.

Poderiamos ter algo histórico: a primeira eleição sem ter candidato único desde 1989.

Porém, como quando a esmola é demais, o santo desconfia, surge o nome de Samir Xaud.

Eleito presidente da Federação RONDONIENSE de futebol, substituindo seu pai, que comandou o futebol de Rondônia por 40 anos, Xaud fechou sua chapa com apoio 22 das 27 federações e 5 clubes.

O estatuto da CBF exige que uma chapa para ser acolhida para a eleição, precisa ter formalmente o apoio mínimo de 8 federações e 5 clubes com direito a voto.

Os clubes, em especial dos integrantes das ligas LIBRA e LFU, se uniram em torno do nome do atual presdiente da Federação Paulista, Reinaldo Bastos.

Porém, como ele não conseguiu o mínimo de apoio das federações (já que não conseguiu o apoio de 8), não pode lançar chapa.

Logo, teremos novamente eleição única, e Samir Xaud deverá ser aclamado o novo presidente da CBF.

E agora?

Ednaldo tentou, desde 2023, a contratação de Carlo Ancelotti para o cargo de treinador da Seleção. Talvez como cortina de fumaça.

Logo quando consegue, é afastado.

E Ednaldo – aparentemente – desistiu de recorrer para voltar ao cargo, já desejando “sucesso ao novo mandatário do futebol”.

Se isso é verdade ou apenas recálculo de rota para novas ações, só o tempo dirá.

Além disso, a própria ação do ministro Gilmar Mendes é questionada por invocar conflito de interesses.

Supostamente foi Mendes que indicou Xaud para concorrer a eleição.

Se não fosse pouca coisa, Mendes é fundador do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), que tem contrato com a CBF para gestão da escola CBF Academy.

O diretor-geral do IDP, inclusive, é Francisco Schertel Mendes, filho do ministro.

O Senado já tenta articular investigar essa relação em uma CPI, mas tudo ainda está muito na especulação.

Sobre o novo mandatário do futebol brasileiro, com todo respeito ao povo de Rondônia, mas não me parece ser Xaud uma escolha experiente para tentar organizar a bagunça na qual a CBF se tornou.

E, principalmente com as federações mandando e desmandando na CBF, não me parece que esse novo nome vai mudar alguma coisa.

A politicagem segue firme no radar da CBF, quando era pra ser o futebol.

Fonte e Fonte

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