Guerras, neocolonizações e independências mudaram o cenário dos países, o desenho dos continentes e o rumo político das nações.
Isso se refletiu, claro, no esporte.
Na busca por identidade, as nações tentam se reorganizar internamente, e querem esse reconhecimento adquirido “dentro do país” pelas outras nações.
Daí a questão de mudança de nome aparece. Não é comum um país mudar de nome, principalmente numa época como a nossa, de pós guerra-fria, que dissolveu muitos países – URSS, estou falado com você.
Só que não é tão simples ter o novo nome reconhecido internacionalmente.
Para que uma mudança de nome ocorra formalmente, por exemplo, é preciso enviar para a ONU a nova grafia nas suas seis línguas oficiais.
Assim, os novos nomes entram no banco de dados dos Nomes Geográficos Mundiais.
A partir disso, muda-se a ordem alfabética das cadeiras dos representantes para o novo nome.
Isso se reflete em alguns territórios ditos independentes que não são reconhecidos nem pela ONU e nem pelo COI (o que dá pano pra manga em outro post).
No COI a coisa é “mais leve”, mas eles obviamente aguardam a decisão de órgãos oficiais para a mudança, até porque o COI adota siglas oficiais de 3 letras para cada país.
Por exemplo, somos, obviamente, o BRA.
Abaixo temos quatro países que, desde os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mudaram a forma como querem ser chamados internacionalmente, e serão chamados de outra forma na parada das nações e nos pódios de Tóquio:
Holanda => Países Baixos
Em diversos idiomas, o país já é chamado como “Países Baixos”. No entanto, há o hábito (como aqui no Brasil) de chamá-lo de HOLANDA.
Na verdade, o termo Holanda e refere somente a parte mais rica e populosa do país.
Ao mudar “oficialmente” o nome do país para Países Baixos, o governo neerlandês (esse seria o “novo” gentílico) deseja, dentre outras coisas, acabar com a superlotação da capital, Amsterdã, incentivando os estrangeiros a conhecerem o interior do país.
Com isso, um reposicionamento global de marketing acontece parte do governo para que o novo nome do país pegue.
O COI, já para as Olimpíadas, já irá deixar de mencionar Holanda quando se referir aos Países Baixos.
O país com “novo” nome é tradicional nos Jogos Olímpicos: 26 edições disputadas, 285 pódios (85 ouros, 92 pratas, 108 bronzes).
Suazilândia => Essuatíni
Essa troca ocorreu em 2018, durante a comemoração dos 50 anos de independência do país.
O rei Mswati III então trocou o nome do país, que se chamou de Reino de Essuatíni (ou Eswatini).
O novo nome do país significa “terra dos suazi” (ou – pasmem – Suazilândia) na língua local.
A Suazilândia já participou de 10 edições de Jogos Olímpicos, sem nunca ter subido ao pódio.
Um detalhe: propositalmente colocamos a grafia na linguagem “ocidental”, pois o nome correto do país é eSwatini – sim, começando com minúscula.
Ao contrário da tratativa de nome próprio que estamos acostumados, a escrita é muito comum em línguas bantus, originadas de vários países africanos, em especial nos da área subsaariana.
Macedônia => Macedônia do Norte
Um longo conflito político entre a Macedônia e a Grécia (que também possui uma região em seu território como o nome de Macedônia) terminou pelo governo macedônico (o do país, não o do estado grego) ano passado.
Através de um plebiscito local, a população decidiu que o país se chamaria Macedônia do Norte, diferenciando o mesmo da região grega.
A antiga Macedônia (que, por causa do conflito com a Grécia, chamava-se nas Olimpíadas como “Antiga República Iugoslava da Macedônia”) fazia parte da antiga Iugoslávia até a sua independência em 1991.
A República da Macedônia participou até agora de 6 edições de Jogos Olímpicos, subindo ao pódio uma única vez: bronze em Sydney 2000.
República Checa => Tchéquia (ou Chéquia)
O governo checo pediu formalmente a ONU, em 2016, para que o país deixasse de ser conhecido como República Checa, e passasse a ser Chéquia.
A justificativa? Promover a identidade do país, chamado de Tchecoslováquia até o fim da Guerra Fria, junto com a Eslováquia.
E, como sabemos, a Eslováquia se chama ainda de, bem, Eslováquia.
Apesar da ONU ter sancionado o pedido, o novo nome ainda “não pegou” – nem no COI, que ainda chama o país com “o nome antigo”.
Como República Checa, disputou 6 edições de Jogos Olímpicos, e subiu 56 vezes no pódio: 15 ouros, 17 pratas e 24 bronzes.
Eu vou ter muita dificuldade em passar a chamar Países Baixos e Chéquia. E você?