Um grande escândalo assola o nosso futebol.
Apesar de ser o tipo de coisa que choca, mas não surpreende, vários casos de manipulação de resultados envolvendo jogadores de futebol e o mercado de bets surgiram após investigação.
E parece ser apenas a ponta do iceberg.
Confira nessa postagem como isso começou a ser revelado:
TOC, TOC, TOC…
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) começou a investigar esquemas de manipulação de resultados no futebol depois que o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, tomou conhecimento de um caso no seu clube.
A operação foi batizada de “Operação Penalidade Máxima“.
Marcos Vinicius Alves Barreira, o Romário, teria contraído dívida com uma quadrilha após pedir R$ 10 mil a um colega.
O esquema era que o jogador fizesse uma penalidade, mas isso não aconteceu, e a quadrilha deixou de ganhar R$ 500 mil.
Como diz aquele ditado, quanto mais mexeu, mais fedeu.
Ficou claro, com o avanço das investigações, que esse modus operandi não era exclusivo a esse caso, e tampouco ao futebol goiano.
E se estendeu aos campeonatos estaduais de São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraíba (que já havia tido um caso grave na própria federação estadual pelo mesmo problema)
E chegou também, ao contrário do que se esperava, na elite do nosso futebol.
Inicialmente, foram confirmados casos de irregularidades em 4 jogos da Série A do Brasileirão do ano passado.
Modus Operandi
O chefe da quadrilha identificado pelo MP-GO é Bruno Lopez de Moura, o BL.
A atuação iniciou em 2022, e era dividida em núcleos: intermediadores, apostadores, administrativo e financiadores.
Todas as operações ocorriam via Whatsapp.
Funciona assim: os intermediadores fazem o primeiro contato com o jogador, acertando os valores.
Em seguida, os financiadores disponibilizavam o valor da “entrada”, ou seja, o que o jogador receberia como adiantamento para cometer o ato (fazer pênalti, tomar cartão, etc).
O grupo se dividia para cobrir esse valor, enquanto os apostadores, já com a “certeza” de que a odd correspondente ao acordo ia bater, faziam a aposta.
Bem, nem sempre acontecia, como foi o caso revelado na investigação do jogador Eduardo Bauermann, atualmente no Santos, já sob a segunda fase da Operação Penalidade Máxima.
Conforme o que foi apurado pelo UOL sobre o processo, Bauermann aceitou R$ 50 mil para levar cartão amarelo em partida contra o Avaí, no dia 5 de novembro de 2022.
Porém, ironicamente, além de não conseguir levar o cartão, ele foi o melhor da partida, conforme dados do Sofascore na ocasião.
Ele tentou “limpar sua barra” prometendo forçar uma expulsão na partida contra o Botafogo, cinco dias depois.
Bauermann até foi expulso nesse jogo, mas após o fim da partida, o que não é contabilizado nas casas de apostas.
Após isso, o jogador foi ameaçado de morte por diversas vezes por apostadores que estavam envolvidos no esquema da quadrilha.
O caso teve envolvimento até mesmo do empresário do jogador, que teve que acudi-lo para ajudar a pagar a dívida.
Até o momento, os seguintes jogadores foram denunciados ou citados nas investigações da Operação Penalidade Máxima:
Primeira fase:
- Ygor Catatau, Allan Godói, André Queixo, Mateusinho, Paulo Sergio (Sampaio Corrêa)
- Gabriel Domingos (Vila Nova)
- Joseph (Tombense)
- Romário (Vila Nova)
Segunda fase:
- Eduardo Bauermann (Santos)
- Gabriel Tota (Juventude)
- Paulo Miranda (Juventude)
- Victor Ramos (ex-Portuguesa e atualmente na Chapecoense)
- Igor Cariús (ex-Cuiabá)
- Fernando Neto (ex-Operário-PR)
Segundo o jornalista Andrei Kampff, se condenados pela justiça desportiva, os jogadores podem responder esportivamente a pesadas multas financeiras e suspensões.
Um banimento seria apenas em caso de reincidência.
Repercussão
O caso caiu como uma bomba no cenário esportivo. Alguns dos jogadores citados/denunciados foram afastados de seus clubes.
Eduardo Bauermann foi afastado do elenco do Santos e não atuou contra o Bahia, jogo seguinte a divulgação da denúncia.
Outros clubes estão sistematicamente fazendo o mesmo quando os nomes dos jogadores são divulgados.
A CBF, na pessoa do seu presidente, já afirmou que não irá paralisar ou suspender o Brasileirão por conta da Operação.
Em nota, a entidade afirma que dará todo o apoio necessário nas investigações. Além disso, indica que um ofício foi enviado à Presidência da República e ao Ministério da Justiça, solicitando que a Polícia Federal entre no caso.
O Ministro da Justiça, Flávio Dino, recebeu a sugestão e já acionou a PF para auxiliar nas investigações.
A CBF também afirmou que tem trabalhado com a FIFA para que um modelo de investigação sobre manipulação de resultados seja criado.
Essa sugestão já havia sido dada bem antes da explosão das denúncias do MPGO.
Até aqui tem Fake News
Infelizmente as notícias falsas seguem prejudicando até mesmo a investigação.
Jogadores que não foram citados na investigação, como Gabriel Menino (Palmeiras) e Tadeu (Goiás) entram na justiça contra quem divulgou erroneamente que eles estavam citados, inclusive mostrando lances que possivelmente eram suspeitos.
E também na divulgação das notícias há a afirmação falsa. Um dos atingidos foi o jornalista Marcelo Barreto, do SporTV.
Marcelo Barreto gravou um vídeo para pedir que as pessoas compartilhem a informação (verídica) de que ele não afirmou em momento algum sobre o número de jogadores envolvidos no escândalo de esquemas de apostas, tampouco sobre possível paralisação do campeonato brasileiro. pic.twitter.com/0jDC2PTxNA
— Irlan Simões 🏴 (@IrlanSimoes) May 10, 2023
Segundo notícia falsa espalhada nas redes, ele teria afirmado que a operação já teria 200 nomes, e que o Brasileirão seria paralizado por conta disso.
A informação foi desmentida pelo jornalista.
Bet balança o futebol
Essa atuação dos grupos criminosos cresceu junto com a expansão do mercado de apostas esportivas no país nos últimos anos.
O setor aumentou em 10 vezes sua movimentação financeira (2 bilhões de reais em 2018, 20 bilhões de reais em 2023 – projeção).
Dezenove dos vinte clubes da elite do nosso futebol são patrocinados por sites de apostas esportivas, bem como as principais competições da CBF – como a Copa do Brasil e a Série B.
Esse crescimento está na mira do Executivo Federal, que pretende regulamentar a atividade dos sites de bet no país.
Definitivamente é um escândalo gigantesco no nosso futebol.
Esperamos que os criminosos sejam punidos com o rigor da lei, e que o futebol seja decidido pelos atores do espetáculo sem qualquer influência externa!