Fita azuuul, azul fitaaaa (ou o que foi a premiação da Fita Azul)

Antes de começar o post, uma bela canção.

Desculpa…

Enfim. Vamos ao real assunto desse post. O Santa Cruz, para homenagear os 40 anos de uma importante conquista do clube, criou o terceiro uniforme da temporada 2020 totalmente azul.

O título em questão não é bem um troféu, mas uma condecoração: a “Fita Azul”.

Essa Fita Azul foi uma honraria dada inicialmente pela CBD, Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF) aos clubes que retornassem invictos de uma excursão internacional para a realização de amistosos.

Naquela época, o futebol não tinha um calendário como tem hoje, sendo os estaduais os maiores torneios do país.

A Fita Azul não era um título oficial, mas era um reconhecimento dado ao clube que representasse bem o país lá fora.

E essa “fita” era bem valorizada na época já que uma excursão internacional era algo bem raro, assim como hoje – mas por motivos diferentes dos de hoje. Na época, era a logística. Hoje é o calendário.

Inicialmente, a CBD dava a condecoração ao clube que conseguisse 10 partidas invictas em sua excursão. Só que acabou desistindo da ideia, que foi adotada, mesmo que por pouco tempo, pelo jornal “A Gazeta Esportiva“, que diminuiu a quantidade de vitórias para a Fita, passando a ser seis.

O fato da premiação se chamar “Fita Azul” nunca foi esclarecida oficialmente, mas a ideia mais aceita é a Banda Azul, condecoração dada por linhas de passageiros a barcos que cruzavam em menor tempo o oceano atlântico, e as viagens desses clubes eram todas de navio.

Aproveitando a iniciativa do Santa Cruz, aliás, o último clube a receber a honraria, vamos relembrar todos os outros contemplados:

Portuguesa

O único tri-fita azul, conseguiu a condecoração em três excursões internacionais:

1951 — Turquia, Espanha e Suécia.
(12 jogos: 11 vitórias e 1 empate)

Como destaque dessa excursão, a vitória no Troféu San Isidro, na Espanha, sobre o Atlético de Madrid por 4×3.

1953 — Peru, Colômbia e Equador.
(10 jogos: 7 vitórias e 3 empates)

A grande conquista da Lusa nessa excursão foi um torneio quadrangular contra o Millonários, na Colômbia. Equipe essa em que estava jogando o craque argentino Alfredo Di Stéfano.

1954 — Inglaterra, França, Alemanha e Turquia.
(15 jogos: 10 vitórias, 4 empates e 1 derrota)

Essa excursão é controversa, pois na primeira partida a Lusa levou de 7×1 do Arsenal, na Inglaterra.

No entanto, essa derrota foi “perdoada”. Um detalhe é que a Lusa estava desfalcada de vários jogadores, que estavam atuando na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, que aconteceu durante a excursão da Portuguesa.

Corinthians

O Timão também ostenta uma fita azul, conquistada pela sua excursão invicta pela Europa em 1952.

1952 — Turquia, Suécia, Finlândia e Dinamarca.
(16 jogos: 12 vitórias, 3 empates e 1 derrota)

Assim como a terceira Fita Azul da Lusa, a Fita do Timão é “manchada”, pois sua primeira partida da série foi uma derrota contra o Besiktas, da Turquia. E da mesma forma do que houve com a Lusa, o Timão foi “perdoado” por causa da sua série invicta na sequência.

Um detalhe interessante é que o jogo contra a seleção olímpica da Finlândia marcou a inauguração do Estádio Olímpico de Helsinque, que sediaria os Jogos Olímpicos daquele ano.

Portuguesa Santista

Não é exagero afirmar que a Fita Azul é a maior glória da história da Briosa. Foi conquistada durante excursão africana em 1959.

1959 — África do Sul
(15 jogos: 15 vitórias)

Como destaque negativo dessa jornada, a excursão ocorreu durante o auge do apartheid, política oficial do país de segregação racial.

A excursão, além da importância esportiva, teve importância política.

Ao impedir o desembarque de três jogadores negros, e tentar barrar esses mesmos jogadores ao entrar em campo contra um combinado do país, a política sul-africana fez com que o presidente brasileiro (na época, JK) repercutisse o incidente diplomático, chegando a pedir que a Briosa voltasse ao país.

O Brasil, por conta desse episódio, se tornou o primeiro país a se posicionar oficialmente contra o Apartheid sul-africano. Quanta diferença pros dias atuais, hein?

Caxias

O time do interior gaúcho não foi muito longe para pegar sua fita, em 1962. Na Argentina (e ainda denominado Grêmio Esportivo Flamengo) fez sua invicta excursão.

1962 — Argentina
(12 jogos: 9 vitórias e 3 empates)

Destaque aos empates contra os atuais “conhecidos” Godoy Cruz e Gimnasia y Esgrima.

Bangu*

A torcida que mais parece a do Fla-Flu é a única do Rio de Janeiro a ter essa “condecoração”, conquistada durante excursão pela América do Sul.

1962 — Suriname, Bolívia, Colômbia e Equador.
(12 jogos: 8 vitórias e 4 empates)

Dos times “top” enfrentados, vitórias sobre o Independiente Medellín, Emelec e Barcelona de Guayaquil, e empate contra o Once Caldas.

Bem, a campanha foi de Fita Azul, mas a dita cuja não foi recebida pelo time, provavelmente por divergências entre a CBF e a Federação de Futebol do Rio (coisa “impensável” hoje em dia, não é mesmo?)

São Paulo*

Sim, apesar de poucos tricolores conhecerem essa história, o Tricolor Paulista foi condecorado com a Fita Azul pela sua excursão na Europa, em 1964.

1964 — Tchecoslováquia, Alemanha, Bélgica, França e Itália.
(11 jogos: 8 vitórias e 3 empates)

O destaque foi a vitória por 1 a 0 em cima do Milan, mostrando que o time italiano é freguês do Soberano e não é de hoje.

A CBD havia desistido de agraciar a Fita, e juntamente com a pouca documentação da época, não há confirmação oficial de que a Fita foi dada ao Tricolor mas, como vimos na imagem dos jornais da época, é bem provável que isso tenha acontecido.

Coritiba

Já sob o comando do Jornal Gazeta Esportiva, a Fita Azul foi condecorada ao Coritiba pela sua excursão de 6 partidas internacionais invictas em 1972, o mínimo requerido.

A conquista foi tão marcante ao time que até no seu hino foi incorporada!

1972 — Turquia, Argélia e Marrocos.
(6 jogos: 4 vitórias e 2 empates)

Um detalhe interessante é que, durante sua excursão, o Coritiba enfrentou um brasileiro – a Portuguesa.

Os times se enfrentaram na Turquia, onde a Lusa também participava de um triangular. No jogo, 0x0.

Santos

O Peixe foi o condecorado que mais viajou para conquistar a Fita. Percorreu oito países durante sua excursão.

Não era o Santos totalmente dominante da década de 1950 e 1960, mas tinha Pelé atual tricampeão mundial, o grande astro da excursão.

1972 – Japão, Hong Kong, Coreia do Sul, Tailândia, Austrália, Indonésia, Estados Unidos e Canadá.
(17 jogos: 15 vitórias e 2 empates)

Contando com a excursão anterior pela África, o Santos se tornou o primeiro brasileiro a jogar em todos os continentes.

A tourne foi muito proveitosa para o Santos (que enfrentou vários selecionados nacionais) e para Pelé, que anotou 25 gols nas 17 partidas.

Santa Cruz

O último condecorado pela Fita Azul, o Santa estava em alta – já havia vencido a Seleção da Tchecoslováquia, atual campeã europeia, em Recife. Excursionou e fez história.

1979 — Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Romênia e França.
(12 jogos: 10 vitórias e 2 empates )

Como destaque na campanha, vitória sobre o Al-Hilal (time saudita que recentemente esteve no Mundial de Clubes, que na época não tinha a fama de hoje) e do empate contra o Paris Saint-Germain EM PLENA PARIS.

Apesar dos jogos terem acontecido durante o ano de 1979,o título só foi concedido ao Santa no ano de 1980.

Fonte e Fonte

E hoje, será que valeria a pena?

Após a excursão do Santa Cruz, a Fita Azul deixou de ser condecorada. De fato, o futebol nos anos 50, 60, 70, não era tão voltado ao mercado, ao empresariado, deixando competições como essa mais factíveis.

Além disso, o calendário apertado dos clubes impedem eles de excursionarem.

Alguns torneios como a International Champions Cup e/ou a Copa Mickey(aka Florida Cup) tentam aproveitar o meio/final de temporada dos clubes para torneios que lembram excursões.

Alguns clubes europeus fazem sua pré-temporada em outros países para divulgarem ainda mais sua marca. Federações almejam disputar seus torneios em outros países – como a La Liga que queria mandar partidas nos EUA, ou a Federação Italiana, que faz sua Supercopa em países como China e Arábia Saudita.

Convenhamos, um título de Florida Cup não conquista o torcedor, que dirá um “prêmio simbólico” como a Fita Azul…

E você, o que acha? A Fita Azul teria razão de existir hoje em dia? Comenta aí!