Hoje o Brasil celebra a canonização de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, hoje Santa Dulce dos Pobres.
Sua vida, dedicada a cuidar dos mais pobres, e que ganhou fama por todo Brasil e pelo mundo, foi entregue a Deus desde os seus 13 anos.
O que pouca gente sabe é que Irmã Dulce teve um importante capítulo relacionado ao FUTEBOL.
O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, contou essa história em um artigo, chamado “Irmã Dulce e o Ypiranga”.
Como o título do artigo sugere, Irmã Dulce era torcedora do Ypiranga, clube baiano fundado em 1906.
Esse time “foi um os primeiros times do Brasil a aceitar a inclusão de jogadores negros”.
“O que emerge dessas histórias são aspectos humanos dessa figura encantadora que a cidade de Salvador e o estado da Bahia já conheciam, e que o Brasil mais e mais passa a conhecer e admirar”.
O Ypiranga era, antes do advento da dupla Bahia e Vitória, o clube com mais torcida do estado.
A própria Irmã, depois de anos na vida religiosa, tinha fresca as memórias de quando ia com o pai ao Campo da Graça:
“Eu ia todo domingo para o Campo da Graça com meu pai ver futebol. A gente voltava sem poder falar […] Popó era o meu preferido. Era um escuro com as pernas tortas. Se ele estivesse vivo hoje, ele seria Pelé. Ele era danado na bola”
Isso aconteceu até a década de 1950. O clube acumulou poucas, mas grandes glórias nacionais numa época que o futebol ainda era estritamente amador.
Popó, o grande ídolo da futura Irmã Dulce, é um dos poucos jogadores do início do século passado ainda lembrado de forma marcante na Bahia, mesmo que tenha morrido na pobreza.
Sua fama atravessou fronteiras quando, em 1923, ele venceu com o Ypiranga o poderoso Fluminense do Rio marcando TODOS OS GOLS.
Um telegrama enviado por um dirigente do Flu foi manchete de um jornal carioca no dia seguinte ao jogo: “Popó 5 x 4 Fluminense”.
O Ypiranga conseguiu vencer o campeonato estadual por 10 vezes, mas após o advento de Bahia e Vitória no apreço popular, perdeu adeptos.
Em 1999, o clube foi rebaixado para a Segunda Divisão estadual, levando a uma crise que culminou em um licenciamento na Federação Baiana em 2007, ficando desativado até 2010.
Hoje o clube ainda está na segunda divisão, mas aos poucos, vem trazendo de volta alguns torcedores, para tentar lembrar os áureos tempos.
Segundo Dom Murilo Krieger:
“Aspectos como esse da vida de Irmã Dulce dos Pobres servem para nos mostrar que os santos têm como característica estarem sempre com os olhos voltados para o céu, mas com os pés sempre bem firmes na terra em que pisam
[…] longe de serem alienados [os santos] também sentem, sofrem, alegram-se e reagem como qualquer um de nós. A diferença está nas motivações que os dirigem, no equilíbrio que os mantêm em qualquer situação e na intensidade de seu amor por Deus e pelo próximo.
Afinal, o mesmo futebol que alegra e diverte pode se tornar uma paixão doentia – essa, sim, inútil, alienante, cara e prejudicial”.
Quem sabe a retomada do Ypiranga não seja um novo milagre da Santa Dulce dos Pobres?