Como o esporte reagiu a invasão russa na Ucrânia?

Desde o final do mês passado, vemos o desenrolar do clima tenso e, por fim, a invasão russa ao território ucraniano.

Mesmo que, infelizmente, não seja algo excepcional – já que temos conflitos armados em outros países acontecendo sem a comoção mundial -, uma guerra novamente em solo europeu trouxe preocupação ao mundo.

E o esporte não ficou alheio a tudo isso.

Nesse post vamos ver quais sanções esportivas o país de Vladmir Putin recebeu após iniciar o conflito contra a Ucrânia.

Essa postagem não tem como objetivo explicar ou opinar sobre a invasão, mas de mostrar que o esporte – de uma maneira ou de outra – não fechou os olhos ao conflito, que vai totalmente em sentido contrário ao que ele deve proporcionar.

As primeiras represálias a invasão russa

Com a atitude de Putin, de invadir a Ucrânia mesmo com todo o clamor internacional, a Rússia virou pária internacional.

E no esporte, isso acabou se refletindo com mais força.

A mais esperada – era do Comitê Paralímpico Internacional, com os Jogos Paralímpicos de Inverno começando praticamente uma semana após o inicio do conflito.

Sendo o primeiro grande evento esportivo internacional após o início do conflito, o IPC decidiu remover os atletas que desfilariam sob o símbolo do RPC (Comitê Paralímpico Russo).

E com os atletas já na China.

O governo chinês, aliado dos russos, não deve ter gostado disso.

Tanto que tentou censurar o discurso do presidente do IPC, o brasileiro Andrew Parsons, durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos, quando em sua fala, era firme na defesa da paz e contra a invasão russa.

Porém, não foi a única sanção esportiva que a Rússia sofreu por conta da invasão. Vejamos:

Futebol

No momento em que o conflito começou, a Rússia estava se preparando para a repescagem europeia da Copa do Mundo, além do Spartak Moscou que era o único clube que havia sobrado em competições europeias.

Após imensa pressão internacional, tanto a FIFA quanto a UEFA foram pesado: suspensão de todas as seleções e clubes russos de torneios continentais e internacionais.

Yaremchuk, atacante do Benfica, exibe uma camisa com o brasão ucraniano após jogo contra o Ajax pela Champions League.

Um dos focos de pressão foi uma carta conjunta das federações polonesa, checa e sueca, adversários da Rússia por uma vaga no Mundial do Catar, dizendo que não enfrentariam os russos.

Com a punição, a Rússia foi eliminada da repescagem da Copa do Mundo (com a Polônia avançando a final da chave) e o Spartak foi limado da Europa League (fazendo o RB Leipzig – seu oponente – avançar as oitavas-de-final).

Em comunicado conjunto, UEFA e FIFA mostram que estão unidas “contra a guerra”:

“O futebol está totalmente unido aqui e em total solidariedade com todas as pessoas afetadas na Ucrânia […] Ambos os presidentes esperam que a situação na Ucrânia melhore significativa e rapidamente para que o futebol possa voltar a ser um vetor de unidade e paz entre os povos”.

Antes disso, a UEFA já havia retirado a decisão da Champions League de São Petersburgo, passando a final para Paris.

Não somente dentro de campo

Obviamente a Ucrânia foi prejudicada também, mas por conta do conflito em si.

O seu campeonato local foi suspenso. A FIFA permitirá que, em nova janela internacional de contratações, que atletas estrangeiros possam jogar em outros clubes até junho – ou dezembro – desse ano.

A Ucrânia não tinha mais representantes disputando torneios europeus, mas a seleção está na repescagem europeia para a Copa.

A partida semifinal contra a Escócia – que acontecerá no país britânico – foi adiada.

E não foi apenas o futebol russo o atingido. As sanções econômicas adotadas pela Europa e a comoção contra a guerra acabaram pegando empresas e empresários russos envolvidos com o esporte bretão.

O Schalke 04, que tinha como patrocinador master a Gazprom (petrolífera russa) rescindiu o contrato com a empresa.

Roman Abramovich, dono do Chelsea, teve seus bens bloqueados, o que acabou atingindo o atual campeão mundial de clubes, de forma tal que nem ingressos pode vender mais.

O clube está paralizado financeiramente, sem poder vender produtos e nem negociar jogadores. Apenas os socio-torcedores podem pegar ingressos.

Atletismo

O Conselho Mundial de Atletismo proibiu a participação de todos os atletas da Rússia e de Belarus (que entrou no conflito ao lado dos russos) nos eventos da World Athletics Series. Inclusive os que havia sido acolhidos com permissão especial após a suspensão russa em 2015.

O grande evento do atletismo atualmente é o Campeonato Mundial de Atletismo Indoor em Belgrado, na Sérvia, iniciado semana passada.

Sebastian Coe, presidente da World Atlhetics, desabafa:

“Qualquer um que me conheça entenderá que impor sanções aos atletas por causa das ações de seu governo vai contra a corrente […] Eu protestei contra a prática de políticos que visam atletas e esportes para fazer pontos políticos quando outros setores continuam com seus negócios.”

FIA

Após cancelar o GP da Rússia com o início do conflito, a Fórmula 1 decidiu por encerrar o contrato com o circuito de Sochi.

A FIA informou que pilotos russos poderiam competir na categoria, mas como “atletas neutros”, da mesma forma que o COI adotou antes da sanção.

O único russo na categoria mais importante da velocidade, Nikita Mazepin, filho de um grande aliado de Putin, foi preterido do cockpit da Haas.

Isso sem antes a equipe ter encerrado parceria com a Uralkali, empresa russa, e desfeito sociedade com a parte russa da Haas.

Com isso, a equipe – agora 100% americana – abandonou a pintura com as cores da bandeira russa, adotando um visual todo branco.

Para o lugar de Mazepin, o dinamarquês Kevin Magnussen foi anunciado.

Tênis

Após cancelar todas as competições na Rússia e em Belarus, a ITF anunciou que as federações de ambos os países estavam suspensos das competições da entidade.

Ou seja, os atuais campeões da Copa Davis não poderão defender seu título.

Porém, os atletas russos e bielorrussos estão liberados para disputar o circuito da ATP e da WTA, mas não sob a bandeira russa.

Daniil Medvedev, atual líder da ATP

E isso impacta diretamente o atual líder do ranking ATP o russo Daniil Medvedev, que segue competindo, mas sem nenhuma referência a seu pais de origem.

Vôlei

Tanto a FIVB quanto a CEV (Confederação Europeia de Voleibol) suspendeu equipes, clubes, oficiais e atletas de Rússia e Belarus de eventos continentais e mundiais até novo aviso.

Além disso, o Campeonato Mundial de Vôlei masculino desse ano não acontecera mais na Rússia, como programado.

Judô

A IJF (Federação Internacional de Judô), além das sanções aos atletas russos e bielorrussos e da não realização de eventos nesses países, destituiu da presidência de honra da entidade o faixa-preta em Judô Vladimir Putin.

COI

O Comitê Olímpico Internacional, decepcionado com o não cumprimento da trégua olímpica, anunciou sanções a Rússia e a Belarus para não participação em competições, ou apenas com “bandeira neutra”, e orientou as federações dos esportes olímpicos a fazer o mesmo.

Além das federações acima citadas, badminton, beisebol e softbol, canoagem, rugby, triatlo e natação (com o agravante de remover o prêmio de ordem a Putin) também restringiram ou suspenderam as federações e atletas russos e bielorrussos de suas competições.

Curling, patinação e esqui, esportes de inverno, também seguiram as mesmas orientações.

Sanção não é novidade por lá

O esporte russo já está sofrendo sanções esportivas por conta do escândalo de “doping estatal”.

Em 2015 a WADA, Agência Mundial Antidoping, denunciou a Rússia por supostamente manter um esquema estatal de apoio a “dopagem” de atletas russos.

Esse esquema foi descoberto após os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi (na Rússia), em 2014.

Como punição, nos Jogos Olímpicos de Verão no Rio de Janeiro, em 2016, e de Inverno em Pyeongchang – Coréia do Sul – em 2018, alguns atletas russos foram banidos, e outros tiveram que concorrer sob a bandeira e hino olímpicos.

RUSADA e WADA vem envoltas em polêmicas por esquema de doping estatal por parte da Rússia.

Depois de nova polêmica em 2019, com a agência russa aparentemente ainda mantendo o esquema, a WADA conseguiu estender essa suspensão até dezembro de 2023 – e a qualquer modalidade esportiva.

Porém, em clara vitória política russa, o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) maneirou a sanção.

A partir da decisão, em 2020, os atletas russos poderiam vestir uniformes nas cores de seu país — vermelho, branco e azul — e competir nos eventos esportivos, mas sem representar a Rússia explicitamente.

Por exemplo, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado, e nos de Inverno em Pequim nesse ano, atletas russos competiram com o logotipo do Comitê Olímpico Russo (ROC).

Só que seus uniformes estavam praticamente com as cores da bandeira russa, mas sem explicitar a bandeira.

Além disso, o hino foi substituído por uma ópera de Tchaikovsky.

E isso se estendeu a outros eventos, como o Mundial Masculino de Beach Soccer – sediado na Rússia.

O país sede não pode se apresentar como tal, mas sim como UFR (União de Futebol Russa).

Já outras federações (como o volei, basquete e futebol) haviam ignorado ou driblado essa sanção.

A WADA não gostou nada disso

Esse “abrandamento” na época não foi bem aceita pela WADA. Palavras do presidente da entidade, Witold Banka:

“O CAS encerrou alguns casos do passado e em nossas declarações destacamos que, por um lado, foi uma decisão muito positiva do ponto de vista legal que o CAS tenha confirmado os documentos e todas as nossas regras e padrões
[…] Mas é claro que nós, como Wada, continuamos desapontados que o CAS diminuiu o nível das sanções de quatro para dois anos. Acho que todas as minhas opiniões devem se basear em fatos e evidências científicas.
[…]Esse CAS permite aos atletas russos competir com as cores da bandeira e os uniformes… Queríamos neutros.”

Obviamente a Rússia nega as acusações da WADA.

E como prova que não aprendeu nada, fez uma grande festa no retorno dos atletas medalhistas em Tóquio que “supostamente” não representavam a Rússia, como se esnobasse das sanções.

Fonte e Fonte


Guerra não é boa para ninguém – exceto para quem claramente ganha algo com um conflito dessa natureza.

O esporte deve ser instrumento de paz entre os povos.

Apesar da reação do mundo esportivo tenha sido justa (ou um pouco mais severa do que se esperava), faltou esse trato com outros países igualmente “conflitores”.

O Catar (que recebe uma Copa), os Emirados Árabes Unidos, Israel ou… os Estados Unidos.

Vamos aguardar a repercussão das sanções no esporte russo.

O que você acha de tudo isso? Valeu a pena começar uma guerra para sofrer essas sanções? Comenta aí!