A Copa do Mundo de 1986 no México foi palco de um dos momentos mais icônicos e controversos da história do futebol.
O jogo entre Argentina e Inglaterra teve o brilho de Diego Maradona, numa partida memorável em que ele foi profano e divino no mesmo jogo.
Um jogo com inúmeros contornos dentro e fora de campo.
Neste post, vamos relembrar desse jogo épico e de tudo o que o cercou.
Treta anterior
O confronto entre argentinos e ingleses, naquela fase de quartas-de-final de 1986, não foi aguardado apenas pelo fato de há muito tempo ambas equipes não avançarem as semifinais.
Nem apenas pela campanha das duas seleções.
O confronto trouxe momentos de tensão extra campo por conta do que havia acontecido anos antes.
Entre os dias 2 de abril e 14 de junho de 1982, Argentina e Inglaterra travaram uma guerra pelo controle das Ilhas Falklands (ou as Ilhas Malvinas, como a Argentina chama).
Esses arquipélagos situados no Oceano Atlântico são estratégicos para ambos países.
O conflito acabou vitimando militares de ambos os lados, além de ter consequências políticas.
Após o conflito, a Ditatura Militar argentina se esfaçelou, enquanto no Reino Unido, Margaret Thatcher chegou no poder nas eleições de 1983.
Esse conflito recente foi ponto de preocupação da FIFA e do Governo Mexicano, recebendo as torcidas no estádio para um duelo tenso por natureza.
O pré-jogo
A Argentina vinha de uma fase de grupos em que havia terminado seu grupo na frente da atual campeã Itália.
Invicta, venceu Coréia do Sul e Bulgária, empatando com a Azzurra.
Nas oitavas, já havia atuado num confronto histórico contra os vizinhos uruguaios. Jogo duro e vitória magra por 1×0.
Já os ingleses não tiveram o mesmo sucesso na primeira fase. Perdendo para Portugal na estreia e empatando sem gols com Marrocos, precisou vencer a Polônia no jogo decisivo para avançar.
Nas oitavas, confronto sem dificuldades contra o Paraguai: 3×0.
E assim, chegamos ao dia 22 de junho.
A preocupação mexicana e da FIFA se justificou, pelo menos pelo lado argentino.
Ainda ressentidos com a derrota na guerra, torcedores argentinos adeptos das Barras Bravas participaram de brigas contra os Hooligans ingleses.
Lembrando que a Inglaterra seria punida severamente por conta dos hooligans entre as Copas de 1986 e 1990.
Os cantos hermanos ecoavam ainda mais no estádio:
“Em 1986, vencer aquele jogo contra a Inglaterra era o suficiente. Vencer a Copa do Mundo era secundário para nós. Bater a Inglaterra era nosso verdadeiro objetivo”.
Os 90 minutos
E essa “tensão” se colocou no jogo, pois estava bem pegado.
Maradona estava jogando seu jogo, se enrolando com a bandeirinha na cobrança de escanteio, cobrando falta com perigo, sendo caçado pelos ingleses…
Apenas no segundo tempo a magia acontece.
Em 4 minutos, o mundo do futebol viu a genialidade de Maradona na sua mais perfeita ação.
Primeiro, o seu lado profano:
Aos 5min do segundo tempo, numa jogada genial, Maradona toca na entrada da área para Valdano, que disputa a bola com a marcação.
A bola espirra para o alto, entrando na área. Na pequena área, Maradona disputa a bola com o goleiro Shilton e, com um leve desvio de mão, finge que ganha a disputa de cabeça e abre o placar.
Olhou pro juiz e depois pediu para seus companheiros comemorarem o gol:
“Vamos, me abracem, ou o árbitro não vai validar o gol!”
Os ingleses, revoltados, cobram que o juiz anule o gol, o que não acontece.
Hoje em dia TALVEZ esse gol fosse anulado pelo VAR, dependendo claro da equipe que opera o vídeo…
Esse gol sem vergonha foi batizado de “LA MANO DE DIOS”, já que Maradona afirmou que foi a mão do Criador, e não a sua, que desviou a bola.
E, em seguida, para coroar sua Copa, o lado divino (de verdade):
Aos 9, recebendo a bola bem antes da linha central, Maradona parte para o ataque driblando 4 ingleses enquanto progredia em campo.
Sem tocar a bola, entra na área e finaliza a jogada genial driblando o goleiro. Um golaço antológico! O gol do século, como foi batizado.
A Inglaterra até diminui o placar com Gary Lineker, mas era tarde. A Argentina avançava na Copa com uma aplicação histórica de Maradona.
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Aquele título no México foi o ponto alto da grande carreira de Maradona.
Claro, ele é uma figura polêmica (e é argentino), mas é impossível deixar de lado a sua grande genialidade.
Um jogo que valeu o avanço as semifinais – e ao segundo título mundial -, uma “revanche” histórica e o surgimento de uma lenda do futebol.