O futebol brasileiro foi surpreendido no fim do ano passado com a “compra” do Cruzeiro pelo Ronaldo.
Muita gente acha absurdo um clube do tamanho do Cruzeiro estar tão quebrado que precisou ser “comprado”.
O que vimos, na verdade, foi a compra do FUTEBOL do clube. O SAF pode ser a salvação de muitos clubes brasileiros, mas também pode ser ainda mais danoso.
Nesse post vamos tentar explicar o que é o SAF e quais clubes já aderiram (ou pretendem aderir) a esse novo tipo de clube-empresa.
SAF e Clube-Empresa é a mesma coisa?
Antes de vermos esse fenômeno, precisamos entender o que significa realmente o SAF.
Criada pela Lei 14193/2021 – e promulgada pelo presidente no dia 06/08/2022, a SAF – sigla para Sociedade Anônima do Futebol – é basicamente o departamento de futebol de um clube ser convertido em empresa.
Segundo João Paulo di Carlo, advogado especialista em direito desportivo, e colunista no site Lei em Campo:
“Na prática, é uma empresa cuja atividade principal consiste na prática do futebol em competições profissionais, diferentemente do modelo tradicional de clubes no Brasil, que, por sua maioria, não tem fins lucrativos”.
Além de focar especificamente no futebol, a diferença entre o SAF e o clube-empresa que conhecemos é na tributação.
Esse esquema é bem mais vantajoso que numa S/A (Sociedade Anônima) ou numa LTDA (Sociedade Limitada).
A transparência nas operações, de acordo com a lei, também favorecem as SAF, deixando os prováveis compradores – e o próprio clube – mais tranquilos quanto as operações.
Vantagens e Desvantagens
Não existe almoço grátis. Com benesses, vem também perigos. E é assim quando um clube adota a SAF no seu futebol.
A rigidez da operação de compra, com regras claras, além de favorecer flexibilização e parcelamento de dívidas que inviabilizariam a operação do clube, são grandes vantagens do SAF.
Porém, o fato do futebol estar sob comando de outras pessoas e/ou empresas podem limitar as influências da diretoria.
E isso se estende a torcida e no tocante a coisas como identidade visual, aquisição de jogadores, etc.
E, como qualquer empresa nacional, o SAF também pode se enquadrar na Lei de Falência, o que pode colocar o clube numa situação pior do que estava ao aderir ao SAF.
Um alerta é necessário: o SAF não é uma bala de prata. Mesmo que auxilie na organização financeira de um clube quebrado, sem gestão a dívida pode até ficar maior:
Andrei Kampff, do blog Lei em Campo, manda a real:
“Por isso, tire da cabeça a ideia de que com a migração para empresa os ‘seus problemas acabaram’, tal qual o slogan da organização Tabajara, do Casseta e Planeta. Independentemente da natureza jurídica, seja empresa ou associação, a principal mudança no futebol tem que ser de gestão, que precisa ser profissional, séria e eficiente. Portanto, torcedor, não acredite em mágica, mas cobre sempre trabalho sério e responsável”
Clubes que aderiram ao SAF
Atualmente, temos como grande destaque na adesão ao SAF, três clubes do “G12”, endividados e rebaixados para a segunda divisão que tentam se salvar até mesmo da falência com o SAF.
Cruzeiro
No fim do ano passado, vimos o Cruzeiro, quebrado e na Série B, ter seu futebol adquirido pela empresa representada pelo Ronaldo Fenômeno, ídolo do clube.
Essa aquisição de 90% das ações do clube foi na casa de R$ 400 milhões.
Botafogo
O Botafogo veio logo depois, e após processo rígido no clube, o grupo de Jhon Textor – que também tem ações no Crystal Palace, da Inglaterra – finalmente assumiu a maioria das ações da SAF.
Textor, após aprovação em todas as instâncias pedidas pelo clube, adquiriru 90% do futebol do clube por R$ 410 milhões.
Vasco
Por último, o Vasco teve seu futebol adquirido, em boa parte, pelo grupo 777 Partners, que também tem o Genoa da Itália como integrante do grupo.
A diferença desse negócio para os anteriores, além dos valores serem maiores (R$ 700 milhões por 70% das ações), são as garantias para reforma do estádio de São Januário.
No caso do Vasco, o negócio ainda não foi fechado definitivamente, mas está bem encaminhado.
Outros interessados
O desejo de SAF começou a se espalhar pelos clubes brasileiros.
Após o Atlético-MG anunciar o desejo em aderir ao SAF, ventilou-se que o Grupo City estaria interessado em adquirir o futebol do clube, mas não passou de especulação.
Clubes como o Coritiba, o Figueirense, o Gama, o Athletico e o América-MG já tiveram aprovação de seus conselhos para a conversão do futebol para SAF.
Porém ou não tiveram compradores interessados até então ou até tiveram, mas a negociação não andou.
Só que o processo não é amigável em todos os lugares.
No Santa Cruz, por exemplo, a diretoria está tentando forçar votações de nova presidência junto com a adesão ao SAF, o que gera grande polêmica por parte do torcedor coral.
Apesar do modelo SAF ser um pouco diferente do clube-empresa que já tínhamos em lei, alguns clubes tiveram pouca ou nenhuma adaptação.
O RB Bragantino, o antigo Bragantino adquirido pelo Grupo Red Bull, e o Cuiabá já tinham esses modelos, mas não tiveram problemas em aderir a lei.
Não mudamos a nossa opinião sobre os clubes-empresa. Porém, para alguns clubes, essa pode ser a única escolha.
O torcedor deve ter em mente, portanto, que as decisões do clube podem não ser tão facilmente criticadas e ouvidas pelos donos do clube quanto eram no modelo tradicional.
Será que o SAF vinga no Brasil? O que você acha? Comenta aí?